Vantagens da concertação social

O secretário geral da UGT, Carlos Silva, acusou o Governo de não saber aproveitar as vantagens da concertação social para encontrar soluções para os problemas do país e defendeu o reforço do diálogo social.

“Somos parceiros sociais, apostamos na concertação social. Mas o Governo não tem sabido aproveitar a concertação social”, disse Carlos Silva em entrevista à agência Lusa.

“Podemos contribuir, através do diálogo, para encontrar soluções para o país, é isso que queremos, mas o diálogo não pode ser favorável só a um dos lados”, acrescentou, defendendo que a negociação implica cedência mútua.

Carlos Silva foi eleito secretário-geral da UGT a 21 de abril, no XII congresso da central, substituindo o socialista João Proença.

Os 100 primeiros dias de liderança de Carlos Silva foram marcados pela greve geral de 27 de junho e pela crise política iniciada com a demissão dos ministros das Finanças e dos Negócios estrangeiros no início de Julho.

Após a decisão do Presidente da República de manter o Governo PSD/CDS em funções e da remodelação do executivo, a UGT “aguarda com serenidade e bom senso a apresentação das propostas necessárias ao país”.

“Neste momento extremamente difícil, em que o presidente da República decidiu manter o Governo em funções, a UGT reclama estabilidade governativa e do país e apela aos investidores. Mas há que dar confiança a quem quer investir, há que dar confiança a quem quer criar emprego. Por isso temos o dever de pugnar pela estabilidade”, defendeu.

O sindicalista lembrou que as políticas de austeridade que levaram a UGT a participar na greve geral de 27 de Junho continuam em cima da mesa mas cabe ao Governo alterá-las pois a central sindical não tem interesse em fazer a luta pela luta.

“O Governo tem que perceber que os parceiros sociais reivindicam a alteração de políticas”, disse, acrescentando que existem condições para continuar o diálogo em concertação social, desde que o Governo faça dela “um verdadeiro fórum para encontrar em conjunto soluções para os problemas do país”.

“O que o Governo não pode é fazer da concertação social um espaço de quero, posso e mando”, afirmou.

O novo líder da UGT defendeu que têm de ser discutidas com os parceiros sociais medidas de estímulo à economia, que não tenham grande impacto financeiro, como o aumento do salário mínimo, dos 485 para 500 euros, e a redução do IVA da restauração, dos 23 para 13%.

“Isto seria uma forma de reforçar a capacidade do mercado interno e estimular a economia”, explicou.

Carlos Silva assegurou que “o movimento sindical não está de férias” e a UGT “está completamente disponível” para comparecer na reunião de concertação social ou bilaterais que o Governo entenda marcar para breve.

Segundo o sindicalista, a reforma do Estado e as propostas legislativas que o Governo apresentou para os trabalhadores da administração pública podem gerar alguma dificuldade negocial, se o governo não se aproximar das posições dos parceiros.

“Não nos passa pela cabeça que o Governo concretize o despedimento encapotado de 30.000 funcionários públicos, por exemplo. Mas vamos ver como se comporta o Governo”, afirmou.

Lusa/SOL